“Quanto mais me despedaço, mais fico inteira e serena.”
– Obra poética, de Cecília Meireles, Darcy Damasceno – Publicado por J. Aguilar, 1958 – 1093 páginas
Cecília Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964), foi uma jornalista, pintora, escritora e professora brasileira.
“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda…”
– Antologia poética – página 125, Cecília Meireles – Editôra do Autor, 1963 – 255 páginas
– Poesias completas – v.6, Página 36, de Cecília Meireles – Publicado por Civilização Brasileira, 1973
Carreira literária
1919-1925: Espectros, Nunca Mais… e Baladas para El-Rei
Com dezoito anos de idade, em 1919, Cecília lança seu primeiro livro de poemas, Espectros, lançado pela Editora Leite Ribeiro (hoje Freitas Bastos)[3], com dezessete sonetos, escritos do tempo em que cursava a Escola Normal, e com prefácio assinado por Alfredo Gomes, que tinha sido seu professor de Língua portuguesa e, à época, prestigioso gramático, que saldava “o coração já superiormente formado, a inteligência clara e lúcida, a intuição notável com que sabia expor pensamentos próprios e singulares até em assuntos pedagógicos” de sua aluna[13].
A terra tão rica e – ó almas inertes! – o povo tão pobre … Ninguém que proteste! (…)
(in: Romanceiro da InconfidênciaDo animoso Alferes, Romance XXVII)
O livro continha poemas sobre temas históricos, lendários, mitológicos e religiosos, tendo personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos, sob influência simbologista, na musicalidade e melancolia[14], indo na contramão do que estava sendo publicado na época[15]. Com diminuta tiragem, acredita-se que o livro tenha sido lançado às custas da autora[16].
- “Noções (…) Entre mim e mim há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos (…)
-
- – Viagem – Página 99, Cecília Meireles – Editorial Imperio, 1939 – 199 páginas
- “Noções (…)Ó meu Deus, isto é a minha alma:
- qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
- como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera…
- – Obra poética – Página 65, Cecília Meireles – J. Aguilar, 1958 – 1093 páginas
- “Primavera
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. (…)
-
- – Cecília Meireles: obra em prosa, Volume 1 – Página 366, Editora Nova Fronteira, 1998
- “Serenata
- Permita que eu feche os meus olhos,
- pois é muito longe e tão tarde!
- Pensei que era apenas demora,
- e cantando pus-me a esperar-te. (…)
- – Poesia completa – Página 145, Cecília Meireles, Darcy Damasceno – Editora Nova Aguilar, 1994, ISBN 8521000014, 9788521000013 – 1469 páginas
- “Sobre o tempo vem mais tempo.
- Mandam sempre os que são grandes:
- e é grandeza de ministros
- roubar hoje como dantes”,
- – in: Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles
- “Romantismo
- Quem tivesse um amor, nesta noite de lua,
- para pensar um belo pensamento
- e pousá-lo no vento!…
- Quem tivesse um amor – longe, certo e impossível –
- para se ver chorando, e gostar de chorar,
- e adormecer de lágrimas e luar!
- Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas,
- partisse por nuvens, dormente e acordado,
- levitando apenas, pelo amor levado…
- Quem tivesse um amor, sem dúvida nem mácula,
- sem antes nem depois: verdade e alegoria…
- Ah! Quem tivesse… (Mas quem tem? Quem teria?)
- – Mar absoluto: e outros poemas – Página 37, Cecília Meireles – Livraria do globo, 1945 – 240 páginas
Espectros ganhou uma crítica positiva de João Ribeiro, publicado no jornal O Imparcial, em que ele prevê um belo futuro para Cecília[16]. Para Darcy Damasceno, crítico do Jornal do Comércio, o livro impedia a real face criativa e espiritual de Meireles devido ao rigor das métricas e acentuação, em textos parnasianos[17].
Durante tempos, o livro tinha sido desaparecidos, e chegaram a achar que ele, de fato, nunca tivesse existido. Nem mesmo a família da autora não tinha notícias ou qualquer exemplar da obra[5]. Dele, o que conhecia era apenas fragmentos[2][14]. Porém, em 2001, o livro foi reeditado e incorporado à Poesia Completa, coletânea lançada pela Nova Fronteira[3].
A partir daí, Cecília começa a se aproximar de escritores como Tasso da Silveira, Andrade Muricy e, entre fevereiro e março de 1922, escreve novos poemas para compor um novo livro[5].
Nessa época, acontece a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, liderado por Oswald de Andrade, com a qual Cecília tem pouco contato. No ano seguinte, publica Nunca Mais… E Poema dos Poemas, pela editora Leite Ribeiro, contendo vinte e um poemas e seis sonetos[10] de caráter simbolista e com ilustrações de seu marido, Correia Dias.
Posteriormente, Cecília pediu que esse livro fosse removido de sua bibliografia[5][8].
Publica em 1924 Criança, Meu Amor, seu primeiro livro infantil, com crônicas em prosa poética[11] para o ensino fundamental[10], onde a escritora traz realidades que as crianças gostam, como “o imaginário, o bom conselho, o humor, a fantasia”[18].
Os poemas escritos entre fevereiro e março de 1922, foram publicados em Baladas para El-Rei lançado em 1925, pela Editora Brasileira Lux e também com ilustrações de Correia Dias[3], seguindo a mesma linha dos últimos dois álbuns já publicados, o que acaba fazendo com que estudioso caracterizem essa parte da vida de Cecília como um “simbolismo-tardio”, encabeçado por Tasso da Silveira[19].
1939-1950: A Viagem e outras publicações
Obras
Estas são algumas das obras publicadas por Cecília Meireles:[21]
- Espectros, 1919
- Criança, meu amor, 1923
- Nunca mais, 1923
- Poema dos Poemas, 1923
- Baladas para El-Rei, 1925
- O Espírito Vitorioso, 1929
- Saudação à menina de Portugal, 1930
- Batuque, samba e Macumba, 1933
- A Festa das Letras, 1937
- Viagem, 1939
- Olhinhos de Gato,1940
- Vaga Música, 1942
- Poetas Novos de Portugal, 1944
- Mar Absoluto, 1945
- Rute e Alberto, 1945
- Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948
- Retrato Natural, 1949
- Problemas de Literatura Infantil, 1950
- Amor em Leonoreta, 1952
- Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952
- Romanceiro da Inconfidência, 1953
- Poemas Escritos na Índia, 1953
- Batuque, 1953
- Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
- Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
- Panorama Folclórico de Açores, 1955
- Canções, 1956
- Giroflê, Giroflá, 1956
- Romance de Santa Cecília, 1957
- A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
- A Rosa, 1957
- Obra Poética,1958
- Metal Rosicler, 1960
- Poemas de Israel, 1963
- Antologia Poética, 1963
- Solombra, 1963
- Ou Isto ou Aquilo, 1964
- Escolha o Seu Sonho, 1964
- Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965
- O Menino Atrasado, 1966
- Poésie (versão francesa), 1967
- Antologia Poética, 1968
- Poemas Italianos, 1968
- Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969
- Flor de Poemas, 1972
- Poesias Completas, 1973
- Elegias, 1974
- Flores e Canções, 1979
- Poesia Completa, 1994
- Obra em Prosa – 6 Volumes – Rio de Janeiro, 1998
- Canção da Tarde no Campo, 2001
- Poesia Completa, edição do centenário, 2001, 2 vols. (Org.: Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- Crônicas de educação, 2001, 5 vols. (Org.: Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- Episódio Humano, 2007
Uma obra bastante particular e pouco conhecida de Cecília Meireles é o infanto-juvenil Olhinhos de Gato.
Baseado na vida de Cecília, conta sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (Boquinha de Doce, no livro)
Cecília é considerada uma das maiores poetisas do Brasil, Raimundo Fagner gravou várias músicas tendo seus poemas como base. A exemplo de “Canteiros”, “Motivo”, e tantos outros.
Outros textos
- 1947 – Estreia “Auto do Menino Atrasado”, direção de Olga Obry e Martim Gonçalves. música de Luís Cosme; marionetes, fantoches e sombras feitos pelos alunos do curso de teatro de bonecos.
- 1956/1964 – Gravação de poemas por Margarida Lopes de Almeida, Jograis de São Paulo e pela autora (Rio de Janeiro – Brasil)
- 1965 – Gravação de poemas pelo professor Cassiano Nunes (New York – USA).
- 1972 – Lançamento do filme “Os inconfidentes”, direção de Joaquim Pedro de Andrade, argumento baseado em trechos de “O Romanceiro da Inconfidência”.
Fonte das Citações: Wikiquote Fontes Biográficas: Wikiwand |
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Cecília Meireles |
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Nascimento | 7 de novembro de 1901 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro Brasil |
Morte | 9 de novembro de 1964 (63 anos) Rio de Janeiro, Rio de Janeiro |
Cidadania | Brasileira |
Cônjuge | Fernando Correia Dias (1922-1935) Heitor Grillo (1940-1972) |
Filho(s) | Maria Elvira Meireles Maria Matilde Meireles Maria Fernanda |
Alma mater | Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro |
Ocupação |
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Género literário |
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Movimento literário |
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Magnum opus | Romanceiro da Inconfidência (1953) |
Religião | Cristã |
Assinatura | |
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Biografia
Cecília Benevides de Carvalho Meireles, nasceu no dia 7 de novembro de 1901, no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro, filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil[1], e de Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino primário – hoje, no Brasil, denominada ensino fundamental.
Antes de Cecília nascer, sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor, Carmem [2], e Carlos – esse último morreu três meses antes do nascimento de Cecília.
Aos três anos de idade, sua mãe também morreu, e a menina se mudou para as imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, Açores[1], na época viúva e única sobrevivente da família[3][4][5]. Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da menina, que sempre lhe contava histórias à noite [5][6].
Cecília cursou o Ensino Fundamental I na Escola Municipal Estácio de Sá [4], onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac, inspetor da Escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac, pelo esforço e excelente desempenho “com distinção e louvor”[5][7]. Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros, chegando a escrever seus primeiros versos, além do interesse pela música que a levou estudar canto, violão e violino[6], no Conservatório Nacional de Música[1], pois, sonhava em escrever uma ópera sobre o Apóstolo São Paulo[3].
No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura, tendo em vista que não conseguiria se dedicar com perfeição às muitas atividades simultaneamente[3].
Ela possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo por que sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças[6].
Durante uma entrevista, Cecília disse que “em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder”.
A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: “a solidão e o silêncio”[8].
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