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Machado de Assis • 183 Anos

"A abolição é a aurora da liberdade; emancipado o preto, resta emancipar o branco." — Machado de Assis, em "Esaú e Jacó" (1904) • "O juízo é a ordem, é a constituição, a justiça e as leis." — em "A Semana" (1897) • Machado de Assis, escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro.

“A abolição é a aurora da liberdade;

emancipado o preto,

resta emancipar o branco.”

— Machado de Assis, em “Esaú e Jacó” (1904)

Machado de Assis

183 Anos

Joaquim Maria Machado de Assis

(Rio de Janeiro21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, considerado por muitos críticos, estudiosos, escritores e leitores como um dos maiores senão o maior nome da literatura do Brasil.[4][5][6][7][8]

Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário.[9][10]

Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi grande comentador e relator dos eventos político- sociais de sua época.[11]

O jovem Machado aos 25 anos, 1864, gostava de teatro e lutava para subir socialmente. Foto de Insley Pacheco.

Nascido no Morro do LivramentoRio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade.[12]

Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual.[13]

Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas.

Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.[14]

21 de junho - Machado de Assis - escritor brasileiro

Sua extensa obra constitui-se de nove romances e peças teatrais, duzentos contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas. [15][16]

Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).[17] [18] Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas BorbaDom CasmurroEsaú e Jacó e Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos.

Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da Trilogia Realista.[3]

Sua primeira fase literária é constituída de obras como RessurreiçãoA Mão e a LuvaHelena e Iaiá Garcia, onde notam-se características herdadas do Romantismo, ou “convencionalismo”, como prefere a crítica moderna. [19]

Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público.[20]

Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo BilacLima BarretoDrummond de AndradeJohn BarthDonald Barthelme e outros.[21]

Em seu tempo de vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil,[22] contudo não desfrutou de popularidade exterior na época. Hoje em dia, por sua inovação e audácia em temas precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes,[23] de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores do mundo inteiro.

Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como DanteShakespeare e Camões.[24]

Imprensa Nacional, c.1880, onde Machado de Assis iniciou seus serviços como tipógrafo e revisor.

Jornais, poemas e a sociedade

Tudo indica que Machado evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da cidade.[39] Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à “Ilustríssima Senhora D.P.J.A”, assinando como “J. M. M. Assis”, no Periódico dos Pobres.[40] No ano seguinte, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito. Paula Brito era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e parafusos, [41] também servia como ponto de encontro da sua Sociedade Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha).[42] Um tempo mais tarde, Machado se referiria à Sociedade da seguinte forma: “Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os discursos do Marquês do Paraná“.[43]

Aos 21 anos de idade Machado já era uma personalidade considerada entre as rodas intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por Quintino Bocaiúva, que o convidou para o Diário do Rio de Janeiro, onde Machado trabalhou intensamente como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com Saldanha Marinho supervisionando-o.[40] Colaborou para o Jornal das Famílias sob pseudônimos: Job, Vitor de Paula, Lara, Max, e para a Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857.[53] Bocaiúva admirava o gosto de Machado pelo teatro, mas considerava suas obras destinadas à leitura e não à encenação.[54] Com a morte do pai, Machado lhe dedica a coletânea de poesias “Crisálidas”: “À Memória de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, meus Pais.”[55]

Em 1865, Machado havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada Arcádia Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região.

Machado escrevia crítica teatral e, segundo Almir Guilhermino, aprendeu a língua grega para se familiarizar cedo com PlatãoSócrates e o teatro grego.[58] De acordo com Valdemar de Oliveira, Machado era “rato de coxia” e frequentador de rodas teatrais junto com José de AlencarJoaquim Manuel de Macedo, e outros.[59]

Carolina Augusta e seu marido, Machado de Assis.

Noivado, cartas e relacionamento

Machado teria um outro encontro que mudou de vez a sua vida. Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro,[34] estava mantendo sua irmã, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto.[53] Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo,[65]enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa. Carolina despertara a atenção de muitos cariocas; muitos homens que a conheciam achavam-na atraente, e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data o único livro publicado de Machado era o poético Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão. Carolina era cinco anos mais velha que ele; deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado.[64] Os irmãos de Carolina, Miguel e Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não concordaram que ela se envolvesse com um mulato.[26] Contudo, Machado de Assis e Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869.[55]

Diz-se que Machado não era um homem bonito, mas era culto e elegante.[55] Estava apaixonado por sua “Carola”, apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com cartas românticas e que previam o destino dos dois; durante o noivado, em 2 de março de 1869, Machado havia escrito uma carta íntima que dizia: “…depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis.”[66] Suas cartas endereçadas a Carolina são todas assinadas como “Machadinho”. [66]Outra carta justifica uma certa complexidade no começo de seu relacionamento: “Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida”, o que é um mistério para os recentes estudiosos das correspondências do autor.[66] A carta do primeiro trecho aqui transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido, teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria Carolina.[67]

Machado de Assis c. 1905, pintado por Henrique Bernardelli.

Inspirados na Academia FrancesaMedeiros e AlbuquerqueLúcio de Mendonça, e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira idearam e fundaram, em 1897, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de cultuar a cultura brasileira e, principalmente, a literatura nacional.[82] [83]

Unanimemente, Machado de Assis foi eleito primeiro presidente da Academia logo que ela havia sido instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. [14]

Como escreve Gustavo Bernardo, “Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse discussão.”[84]

No discurso inaugural, Machado aconselhou aos presentes: “Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira.”[85]

Últimos anos

Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se também para sua morte.

Numa carta endereçada ao amigo Joaquim Nabuco, Machado lamenta que “foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo […]”[92]

Antes de sua morte, em 1908, e depois da morte da esposa, em 1904, Machado viu publicar suas últimas obras: Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), e Relíquias da Casa Velha (1906). No mesmo ano desta última obra, escreveu sua última peça teatralLição de Botânica.

Em 1905, participou de uma sessão solene da Academia para a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por Joaquim Nabuco.[53] Com Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções, como também o soneto “A Carolina”, “preito de saudade à esposa morta.”[93] Em 1907, dá início ao seu último romance, Memorial de Aires, que é um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.[94]

Machado de Assis em homenagem do Banco Central na cédula de mil cruzados.

Obra

Em sua História da Literatura BrasileiraJosé Verissimo dedica-se a um capítulo inteiro para tratar de Machado de Assis e lhe separa duas fases de sua obra: uma ligada à escola romântica (ou aos convencionalismos da época) e outra realista.[112]

Em sua História da Literatura BrasileiraJosé Verissimo dedica-se a um capítulo inteiro para tratar de Machado de Assis e lhe separa duas fases de sua obra: uma ligada à escola romântica (ou aos convencionalismos da época) e outra realista.[112]

Os romances da primeira fase seriam Ressurreição (1872), A Mão e a Luva(1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878), enquanto que os da segunda seriam todos os outros restantes de sua carreira, Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro(1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), pertencentes ao Realismo. Embora esta divisão seja ortodoxa entre os acadêmicos, o próprio Machado escrevera numa apresentação de uma reedição de Helena que este romance e os outros de sua fase “romanesca” possuíam um “eco de mocidade e fé ingênua.”[113]

Estilo

A obra de Machado de Assis assume uma originalidade despreocupada com as modas literárias dominantes de seu tempo.

Os acadêmicos notam cinco fundamentais enquadramentos em seus textos: “elementos clássicos” (equilíbrio, concisão, contenção lírica e expressional), “resíduos românticos” (narrativas convencionais ao enredo), “aproximações realistas” (atitude críticaobjetividade, temas contemporâneos), “procedimentos impressionistas” (recriação do passado através da memória), e “antecipações modernas” (o elíptico e o alusivo engajados a um tema que permite diversas leituras e interpretações).[127]

Otelo e Desdêmona por Muñoz Degrain, 1881, é um retrato do drama Otelo de William Shakespeare. Correlação arquétipa com o ciúme do Bentinho de Dom Casmurro.

Temática

A temática de Machado envolve desde o uso de citações referentes a eventos de sua época até os mais intricados conflitos da condição humana.

É capaz de retratar desde relações implicitamente homossexuais e homoeróticas, como no conto “Pílades e Orestes”,[136] até temas mais complexos e explícitos como a escravidão sob o ponto de vista cínico do senhor de escravos, sempre criticando-o de forma oblíqua.[137]

Sobre a escravidão, Machado de Assis já havia tido uma experiência familiar, quer por seus avós paternos terem sido escravos, quer porque lia os jornais com anúncios de escravos fugitivos.[138]

Em seu tempo, a literatura que denunciava crenças etnocêntricas que posicionavam os negros no último grau da escala social era distorcida ou tolhida, de modo que este tema encontra uma grande expressividade na obra do autor.[139]

A começar, a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas narra o que seria uma das páginas de ficção mais perturbadoras já escritas sobre a psicologia do escravismo: o negro liberto compra seu próprio escravo para tirar sua desforra.[137]

Outras obras notáveis, como Memorial de Aires, ou a crônica Bons Dias! de maio de 1888, ou o conto “Pai Contra Mãe” (1905), expõem explicitamente as críticas à escravidão.[137]

Esta última é uma obra pós-escravidão, como podemos notar na frase de início:

“A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos […]” [140]

Um destes ofícios e aparelhos a que Machado refere-se é o ferro que prendia o pescoço e os pés dos escravos e a máscara de folha-de- flandres. O conto é ainda uma análise de como o fim da escravidão levara estes aparelhos para a extinção, mas não levou a miséria e a pobrezaRoberto Schwarz escreve que “se grande parte do trabalho era exercido pelos escravos, restava aos homens livres trabalhos mal remunerados e instáveis.”[141]

Schwarz nota que tal dificuldade dos homens livres, somada às relações dependentes que estes homens traçarão para sua sobrevivência, são grandes temas no romance machadiano.[141]

Para Machado, o trabalho acabaria com as diferenças impostas pela escravidão.[142]

Castro Alves escrevia sobre a violência explícita a que os escravos estavam expostos, enquanto Machado de Assis escrevia as violências implícitas, como a dissimulação e a falsa camaradagem na relação senhor e escravo.[139]

Este mesmo caráter dissimulativo também é encontrado em sua ótica acerca da República e da Monarquia.

Machado influenciou nomes como Olavo Bilac e Coelho Neto,[257] Joaquim Francisco de Assis Brasil,[258] Cyro dos Anjos,[259] Lima Barreto (especialmente seu Triste Fim de Policarpo Quaresma),[260] Moacir ScliarMúcio Leão,[261] Leo Vaz,[260] Drummond de Andrade,[262] Nélida Piñon,[263] e sua obra permanece como uma das mais respeitadas e influentes da literatura brasileira.

Ver também

Machado de Assis fotografado por Marc Ferrez, 1890.

CITAÇÃO

Machado de Assis – O delírio e a felicidade no dia da abolição da escravatura

“Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente [ Princesa Isabel ] sancionou, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta (…) Verdadeiramente, foi o único dia de delírio que me lembra ter visto.”[175]

– Machado de Assis • Fonte: Wikiwand

Sabe-se, também, que Machado era fervorosamente contra a escravidão.

Em 1888, com a abolição da escravatura, sai às ruas em carruagem aberta, como escreveu numa crônica de ‘A Semana’.

“O juízo é a ordem, é a constituição, a justiça e as leis.”

 Machado de Assis, em “A Semana” (1897)

Machado de Assis aos 57 anos, 1896.

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis

(Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908)

183 Anos

FONTES

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