“É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade…”
– Nise da Silveira
Nise da Silveira foi uma renomada médica psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung.
Dedicou sua vida à psiquiatria e manifestou-se radicalmente contrária às formas agressivas de tratamento de sua época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia.
Definição de Mudança de Paradigma
Uma mudança de paradigma é uma expressão utilizada por Thomas Kuhn no seu livro Estrutura das Revoluções Científicas (1962) para descrever uma mudança nas concepções básicas, ou paradigmas, dentro da teoria científica dominante. É uma ideia em contraste com a de ciência normal. Wikipédia
“A palavra não atinge as camadas mais profundas … esses conteúdos do inconsciente, não vêm através da palavra. Por mais que se queira. A palavra não é exatista como a imagem. É preciso aprender a ler a imagem.”
– Nise da Silveira
Nise da Silveira |
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Nascimento | 15 de Fevereiro de 1905 Maceió, Alagoas, Brasil |
Morte | 30 de outubro de 1999 (94 anos) Rio de Janeiro, Brasil |
Ocupação | Médica |
Especialidade | Psiquiatria |
A Trajetória de Nise da Silveira
Fonte: www.ccs.saude.gov.br / O NORDESTE
Presa como comunista, é afastada do Serviço Público de 1936 a 1944.
Anistiada, cria em 1946 a Seção de Terapêutica Ocupacional no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, posteriormente conhecido como Centro Psiquiátrico Pedro II (CPPII).
Em 1952, funda o Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e de pesquisa que reúne obras produzidas nos ateliês de pintura e modelagem. Por meio deste trabalho, introduz a psicologia junguiana no Brasil.
Alguns anos mais tarde, em 1956, mobilizando um grupo de pessoas motivadas pelas mesmas idéias, Nise realiza mais um projeto revolucionário para a época: a criação da Casa das Palmeiras, uma clínica destinada ao tratamento de egressos de instituições psiquiátricas, onde atividades expressivas são realizadas livremente, em regime de externato.
É responsável pela formação do Grupo de Estudos C.G. Jung, do qual foi presidente desde 1968.
Suas pesquisas deram origem, ao longo dos anos, a exposições, filmes, documentários, audiovisuais, simpósios, publicações, conferências e cursos sobre terapêutica ocupacional, com destaque para a importância das imagens do esquizofrênico. Foi também pioneira na pesquisa das relações afetivas entre pacientes e animais, aos quais chamava de co-terapeutas.

Como reconhecimento da importância de sua obra, Nise da Silveira recebeu condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento: saúde, educação, arte e literatura.
Foi membro fundador da Sociedade Internacional de Psicopatologia da Expressão, com sede em Paris, França.
Seu trabalho e seus princípios inspiraram a criação de Museus, Centros Culturais e Instituições Psiquiátricas no Brasil e no exterior.
Nise faleceu em 30 de outubro de 1999, na cidade do Rio de Janeiro.
No ano de 2000, o Centro Psiquiátrico Pedro II é municipalizado e em homenagem à fundadora do Museu passa a chamar-se Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.
” Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas”.
– Nise da Silveira
Os Animais como Terapia
Fonte: canalciencia
A psicoterapeuta Nise da Silveira teve sua vida marcada pelos estudos sobre o comportamento humano e por sua paixão pelos gatos.
Em seus estudos com felinos, Nise descobriu que os gatos são excelentes instrumentos de tratamento para esquisofrênicos, livrando os doentes do isolamento. Por meio da terapia implantada por Nise, os gatos são considerados referências de afeto e aconchego para os doentes mentais.
Discípula de Carl Gustav Jung, Nise revolucionou a maneira de tratar os doentes mentais, utilizando técnicas artísticas – pintura e desenho – como terapia.
Personagem do livro Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, Nise fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional no atual Instituto Municipal Nise da Silveira e a Casa das Palmeiras, clínica de reabilitação para doentes mentais, que utiliza as atividades expressivas (pintura) como principal método terapêutico.
Em 1952, reunindo material produzido nos ateliers de pintura e de modelagem da Seção de Terapêutica Ocupacional, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente.
Em 1961 foi chamada a Brasília pelo presidente Jânio Quadros para apresentação de um plano de desenvolvimento da terapêutica ocupacional nos hospitais psiquiátricos federais.
Biografia Avançada
Formação
Sua formação básica realizou-se em um colégio de freiras, na época exclusivo para meninas, o Colégio Santíssimo Sacramento, localizado em Maceió. Seu pai foi jornalista e diretor do “Jornal de Alagoas“.[3][4]
De 1926 a 1931 cursou a Faculdade de Medicina da Bahia, onde se formou como a única mulher entre os 157 homens daquela turma. Está entre as primeiras mulheres no Brasil a se formar em Medicina.[3] Casou-se nessa época com o sanitarista Mário Magalhães da Silveira, seu colega de turma na faculdade, com quem viveu até seu falecimento em 1986. O casal não teve filhos, por um acordo entre ambos, que queriam dedicar-se intensamente a carreira médica. Em seu trabalho médico, Mário publicava artigos onde apontava as relações entre pobreza, desigualdade, promoção da saúde e prevenção da doença no Brasil.
Em 1927, já casada e formada, e órfã de mãe, sofreu pelo falecimento de seu pai, e então, após alguns meses, junto ao marido, se mudaram para o Rio de Janeiro, onde teriam mais oportunidades de trabalho. Na então capital do Brasil, Nise se engajou nos meios artístico e literário, voltados para área médica, com diversas publicações dos avanços da medicina.
Em 1933, cursando os anos finais da especialização em psiquiatria, estagiou na clínica neurológica de Antônio Austregésilo. Logo após terminar sua especialização, foi aprovada no mesmo ano em um concurso de psiquiatria, e começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha.
Nos anos 1930, militou no Partido Comunista Brasileiro e foi uma das poucas mulheres a assinar o “Manifesto dos trabalhadores intelectuais ao povo brasileiro”. No entanto, acabou por ser expulsa de sua célula, sob a acusação de trotskismo.[5][6]
Prisão
Durante a Intentona Comunista foi denunciada por uma enfermeira pela posse de livros marxistas. A denúncia levou a sua prisão em 1936 no presídio Frei Caneca por 18 meses. Nesse presídio também se encontrava preso Graciliano Ramos, com o que ela tornou-se uma das personagens de seu livro Memórias do Cárcere.
De 1936 a 1944 permaneceu com seu marido na semi-clandestinidade, afastada do serviço público por razões políticas. Durante seu afastamento fez uma profunda leitura reflexiva das obras de Spinoza, material publicado em seu livro Cartas a Spinoza em 1995.[7][8]
Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro
Em 1944 foi reintegrada ao serviço público e iniciou seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde retomou sua luta contra as técnicas psiquiátricas que considerava agressivas aos pacientes.
Por sua discordância com os métodos adotados nas enfermarias, recusando-se a aplicar eletrochoques em pacientes, Nise da Silveira foi transferida para o trabalho com terapia ocupacional, atividade então menosprezada pelos médicos. Assim, em 1946 fundou naquela instituição a “Seção de Terapêutica Ocupacional”.
No lugar das tradicionais tarefas de limpeza e manutenção que os pacientes exerciam sob o título de terapia ocupacional, ela criou ateliês de pintura e modelagem com a intenção de possibilitar aos doentes reatar seus vínculos com a realidade através da expressão simbólica e da criatividade, revolucionando a Psiquiatria então praticada no país.
“A criatividade é o catalisador por excelência das aproximações de opostos. Por seu intermédio, sensações, emoções, pensamentos, são levados a reconhecerem-se entre si, a associarem-se, e mesmo tumultos internos adquirem forma”.
Nise da Silveira, no livro “Imagens do inconsciente”. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981, p.11.
O Museu de Imagens do Inconsciente
Em 1952, ela fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, um centro de estudo e pesquisa destinado à preservação dos trabalhos produzidos nos estúdios de modelagem e pintura que criou na instituição, valorizando-os como documentos que abriam novas possibilidades para uma compreensão mais profunda do universo interior do esquizofrênico.
Entre outros artistas-pacientes que criaram obras incorporadas na coleção dessa instituição, podem ser citados Adelina Gomes, Carlos Pertuis, Emygdio de Barros e Octávio Inácio.
Esse valioso acervo alimentou a escrita de seu livro “Imagens do Inconsciente”, filmes e exposições, participando de exposições significativas, como a “Mostra Brasil 500 Anos”.
Entre 1983 e 1985 o cineasta Leon Hirszman realizou o filme “Imagens do Inconsciente”, trilogia mostrando obras realizadas pelos internos a partir de um roteiro criado por Nise da Silveira.
A Casa das Palmeiras
Poucos anos depois da fundação do museu, em 1956, Nise desenvolveu outro projeto também revolucionário para sua época: criou a Casa das Palmeiras, uma clínica voltada à reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas.
Nesse local podiam diariamente expressar sua criatividade, sendo tratados como pacientes externos numa etapa intermediária entre a rotina hospitalar e sua reintegração à vida em sociedade.
O auxílio dos animais aos pacientes
Foi uma pioneira na pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais, que costumava chamar de co-terapeutas.
Percebeu essa possibilidade de tratamento ao observar como melhorou um paciente a quem delegara os cuidados de uma cadela abandonada no hospital, tendo a responsabilidade de tratar deste animal como um ponto de referência afetiva estável em sua vida.
Ela expôs parte deste processo em seu livro “Gatos, A Emoção de Lidar”, publicado em 1998.
Pioneira da psicologia junguiana no Brasil
Por intermédio do conjunto de seu trabalho, Nise da Silveira introduziu e divulgou no Brasil a psicologia junguiana.

Interessada em seu estudo sobre os mandalas, tema recorrente nas pinturas de seus pacientes, ela escreveu em 1954 a Carl Gustav Jung, iniciando uma proveitosa troca de correspondência.
Jung a estimulou a apresentar uma mostra das obras de seus pacientes, que recebeu o nome “A Arte e a Esquizofrenia”, ocupando cinco salas no “II Congresso Internacional de Psiquiatria”, realizado em 1957, em Zurique. Ao visitar com ela a exposição, ele orientou-a a estudar mitologia como uma chave para a compreensão dos trabalhos criados pelos internos.
Nise da Silveira estudou no “Instituto Carl Gustav Jung” em dois períodos: de 1957 a 1958, e de 1961 a 1962. Lá recebeu supervisão em psicanálise de Marie-Louise von Franz, assistente de Jung.
Retornando ao Brasil após seu primeiro período de estudos junguianos, formou em sua residência o “Grupo de Estudos Carl Jung“, que presidiu até 1968.
Escreveu, dentre outros, o livro “Jung: vida e obra”, publicado em primeira edição em 1968.
Morte
Devido a idade avançada, foi acometida por pneumonia, falecendo de insuficiência respiratória aguda, no Hospital Miguel Couto, Zona Sul do Rio.
Reconhecimento internacional
Foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica (“Societé Internationale de Psychopathologie de l’Expression”), sediada em Paris.
Sua pesquisa em terapia ocupacional e o entendimento do processo psiquiátrico por meio das imagens do inconsciente deram origem a diversas exibições, filmes, documentários, audiovisuais, cursos, simpósios, publicações e conferências.
Em reconhecimento a seu trabalho, Nise foi agraciada com diversas condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento, entre outras:
- “Ordem do Rio Branco” no Grau de Oficial, pelo Ministério das Relações Exteriores (1987)
- “Prêmio Personalidade do Ano de 1992”, da Associação Brasileira de Críticos de Arte
- “Medalha Chico Mendes”, do grupo Tortura Nunca Mais (1993)
- “Ordem Nacional do Mérito Educativo”, pelo Ministério da Educação e do Desporto (1993)
Seu trabalho e idéias inspiraram a criação de museus, centros culturais e instituições terapêuticas, similares às que criou, em diversos estados do Brasil e no exterior, por exemplo:
- o “Museu Bispo do Rosário“, da Colônia Juliano Moreira (Rio de Janeiro)
- o “Centro de Estudos Nise da Silveira” (Juiz de Fora, Minas Gerais)
- o “Espaço Nise da Silveira” do Núcleo de Atenção Psicossocial (Recife)
- o “Núcleo de Atividades Expressivas Nise da Silveira”, do Hospital Psiquiátrico São Pedro (Porto Alegre, Rio Grande do Sul)
- a “Associação de Convivência Estudo e Pesquisa Nise da Silveira” (Salvador, Bahia)
- o “Centro de Estudos Imagens do Inconsciente”, da Universidade do Porto (Portugal)
- a “Association Nise da Silveira – Images de l’Inconscient” (Paris, França)
- o “Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli” (hoje renomeado “Museattivo Claudio Costa”, Genova, Itália)
O antigo “Centro Psiquiátrico Nacional” do Rio de Janeiro recebeu em sua homenagem o nome de “Instituto Municipal Nise da Silveira”.
Em 2015, foi incluída na lista das Grandes mulheres que marcaram a história do Rio”. [9]
Obras publicadas
- SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: José Álvaro Ed. 1968.
- SILVEIRA, Nise da. Imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.
- SILVEIRA, Nise da. Casa das Palmeiras. A emoção de lidar. Uma experiência em psiquiatria. Rio de Janeiro: Alhambra. 1986.
- SILVEIRA, Nise da. O mundo das imagens.São Paulo: Ática, 1992.
- SILVEIRA, Nise da. Nise da Silveira. Brasil, COGEAE/PUC-SP 1992.
- SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1995.
- SILVEIRA, Nise da. Gatos – A Emoção de Lidar. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1998.
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